SBPC se manifesta em defesa das Ciências Humanas e Sociais

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Categoria: Notícias
Data de publicação Escrito por Antonio Nascimento

Em nota pública divulgada nesta sexta-feira, 26 de abril, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC), da qual a SBEM é associada, contesta proposição do presidente da República de cortar investimentos federais para faculdades de Filosofia e Sociologia e defende que essas disciplinas oferecem contribuições "imprescindíveis" para o desenvolvimento de pesquisas e políticas públicas

Leia o texto na íntegra abaixo:

NOTA PÚBLICA DA SBPC EM DEFESA DAS CIÊNCIAS HUMANAS E SOCIAIS
A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) vem a público  manifestar sua discordância em relação à proposição feita ontem pelo Exmo. Sr. Presidente da República de que não haveria mais investimentos federais para faculdades de Filosofia e Sociologia. Diante desta afirmação e de outras críticas recentes e pouco fundamentadas que as Ciências Humanas e Sociais vêm sofrendo, enfatizamos que é grande a importância dessas ciências para a sociedade brasileira, assim como a das outras áreas do conhecimento. Elas podem não proporcionar, como ocorre com muitos avanços científicos, um retorno econômico imediato para a sociedade, mas podem contribuir fortemente para o desenvolvimento científico e tecnológico do País e para a melhoria das condições de vida de sua população.

A SBPC, uma entidade que congrega todas as ciências e que luta pela melhoria da educação e por políticas públicas que conduzam a um desenvolvimento sustentável do País, escorado na ciência, tecnologia e inovação, se contrapõe a essas proposições, afirmando o caráter científico das Ciências Humanas e Sociais e demonstrando sua importância para as políticas públicas. É essencial para o País, e as entidades cientificas têm defendido isto por décadas, que formemos mais profissionais qualificados nas áreas de engenharia, de ciências naturais e de ciências aplicadas, e que estes encontrem condições adequadas para exercerem suas profissões; mas isto de nenhum modo deve estar associado a um desmonte das áreas de ciências sociais e humanas. Alertamos para o risco da utilização, sem o devido cuidado, de comparações internacionais muitas vezes falsas, imprecisas ou distorcidas para embasar a definição de políticas internas relativas à ciência e à tecnologia.

Cabe lembrar que as Ciências Humanas e Sociais não são ideologias, como tem sido afirmado frequentemente. Elas trabalham com metodologias científicas específicas, que incluem o levantamento cuidadoso de dados com o uso de questionários, entrevistas, análise de documentos e observações no campo de estudo, e suas conclusões estão baseadas em evidências. Elas se utilizam frequentemente de dados estatísticos para chegar a determinados resultados ou conclusões, o que atesta, ainda, a importância de instrumentos de conhecimento, como o Censo Demográfico, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), o Censo Educacional e a Relação Anual de Informações Sociais (RAIS), que estão também sendo motivo de questionamento por gestores do atual governo.

Além de possibilitar o avanço do próprio conhecimento da área social, cabe tornar explícita a principal contribuição dessas ciências. Por meio das suas teorias, modelos e metodologias, elas procuram fornecer subsídios para a formulação, implementação, acompanhamento e avaliação das políticas públicas elaboradas pelo governo e pela sociedade, visando à melhoria do bem estar social, que é aferido qualitativa e quantitativamente por meio de indicadores apropriados.
A sua contribuição é, portanto, imprescindível tanto na produção de pesquisas que dão suporte às políticas e aos serviços públicos, como na formação de recursos humanos necessários à operação desses serviços. Podem ser citados muitos exemplos de pesquisas, por exemplo aquelas realizadas por universidades, instituições de pesquisa ou por Institutos Nacionais de Ciência e Tecnologia (INCTs), que contribuíram para a política cultural, educacional, ambiental, de segurança, saúde e habitação do país ou de regiões determinadas.

Por outro lado, as Ciências Humanas e Sociais podem exercer o papel de produzir, de forma permanente, uma reflexão crítica sobre a sociedade e seu funcionamento, que é um elemento fundamental no processo democrático e que é necessário para o controle social e político sobre os processos e as finalidades do desenvolvimento. Elas são essenciais, ainda, em sua contribuição ao processo de formação de cidadãos com a capacidade crítica que a sociedade moderna exige.
Ressalte-se, ainda, que muitas carreiras e desenvolvimentos bem sucedidos nas áreas tecnológicas não resultam simplesmente de conhecimento técnico. Eles requerem habilidades de liderança, inteligência emocional, compreensão da cultura, em outras palavras, um entendimento do contexto econômico e social  que as Ciências Humanas e Sociais podem prover. A integração entre as diferentes áreas de conhecimento é mais fecunda e produtiva socialmente do que a separação entre elas ou a exclusão de algumas delas.

Finalmente, registramos que críticas orquestradas dirigidas às Ciências Humanas e Sociais constituem parte de uma estratégia mais geral que ameaça toda a pesquisa científica do País. Pretende-se restringir a formação universitária à mera aplicação de técnicas importadas e reduzir fortemente os investimentos em ciência, tecnologia e inovação, o que afetará profundamente as universidades e instituições públicas de pesquisa responsáveis por grande parte da produção científica e tecnológica do Brasil e colocará em risco a sobrevivência do sistema nacional de CT&I e a própria soberania nacional.  O domínio da cadeia de conhecimentos científicos e tecnológicos, como evidenciado pela história de todos os países desenvolvidos, é imprescindível para a superação da crise atual do País e para seu desenvolvimento econômico e social.


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