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FEIRA CATARINENSE DE MATEMÁTICA

 

No início da década de 1980, o componente curricular Matemática era tido como principal causador da repetência e da evasão escolar no Brasil e, particularmente, no estado de Santa Catarina. Com a finalidade de atender à demanda do sistema escolar estadual e do municipal por cursos, oficinas e materiais, e de alterar a situação do ensino de Matemática, essencialmente tradicional e livresco, foi criado, em 1984, pelos professores José Valdir Floriani e Vilmar José Zermiani, na Universidade Regional de Blumenau - FURB, o Laboratório de Matemática.

Juntamente com o Laboratório de Matemática, esses dois professores desenvolveram um projeto de extensão universitária que visava a interferir no ensino e na aprendizagem da Matemática por meio da organização de uma Feira de Matemática, a ser realizada em parceria com a comunidade. Esse projeto envolveu professores e acadêmicos do Curso de Matemática da FURB, graduandos já no exercício da docência, seus alunos e os egressos de um curso de Especialização em Ensino de Matemática ofertado pela FURB e financiado pelo SPEC/PADCT/CAPES/MEC1.

A ideia, segundo Zermiani (2003), foi fruto de iniciativas inovadoras de egressos do curso de Especialização em Educação e Ciências, que foi coordenado pelo professor José Valdir Floriani, bem como de professores e alunos do curso de Matemática da FURB.

Segundo Floriani e Zermiani (1985), as Feiras de Matemática visavam a promover estratégias para alteração efetiva no ensino científico de sala de aula. Já, a exposição do trabalho acadêmico ao público externo transformava as atividades escolares em verdadeiros laboratórios vivos de aprendizagem científica, com a participação da comunidade.

Desta forma, em 1985, ocorreram a primeira Feira Regional de Matemática, envolvendo trabalhos desenvolvidos da região de Blumenau (em julho), e a primeira Feira Estadual de Matemática (em novembro), com trabalhos classificados na região de Blumenau e trazidos de outras regiões do estado, em salas de aula da FURB, conforme mostra a Figura 1, na cidade de Blumenau.

Apesar de haver apenas trinta trabalhos sendo apresentados na I Feira Catarinense de Matemática, este evento teve repercussão em todo o estado. Nos anos seguintes, várias regiões de Santa Catarina organizaram Feiras Regionais, sendo que a segunda e a terceira edições da Feira Catarinense de Matemática foram realizadas em Criciúma (1986), que se localiza no sul do estado e Joaçaba (1987), no meio oeste catarinense, respectivamente. Ambas as cidades se encontram em regiões distantes do Vale do Itajaí, onde foi desenvolvida a I Feira Catarinense, o que mostra que a proposta animou e mobilizou docentes das várias regiões do estado.

Desde então, as Feiras Catarinenses ocorreram anualmente e de forma itinerante. A localização e o agendamento da seguinte são determinados em uma assembleia geral realizada no seu encerramento, momento no qual ocorre, também, uma avaliação do evento. O mapa a seguir (Figura 2) apresenta as cidades que sediaram as Feiras Catarinenses de Matemática assim como os anos em que elas aconteceram, de 1985 a 2019.

No ano de 2020, devido à pandemia causada pelo Covid-19, a Feira Catarinense de Matemática não foi realizada. Em 2021, como no estado de Santa Catarina, assim como todo Brasil, ainda havia regras de distanciamento e restrições para eventos, em consequência da pandemia a 36ª edição da Feira foi realizada no formato remoto síncrono e as pessoas puderam acompanhar as apresentações virtualmente pelo site da SBEM SC.

No quadro a seguir apresentamos a evolução das Feiras Catarinenses por meio do número de trabalhos em cada ano, assim como o número de expositores e uma estimativa do número de visitantes.

 Quadro 1: Evolução das Feiras Catarinenses de Matemática, de 1985 a 2021.

 

Ano

Feira Catarinense

Cidade

Nº de trabalhos de matemática

Nº de expositores

Nº de visitantes

1985

I

Blumenau

30

110

500

1986

II

Criciúma

100

300

1.300

1987

III

Joaçaba

106

370

1.600

1988

IV

Itajaí

270

100

3.000

1989

V

Indaial

120

378

2.000

1990

VI

Canoinhas

150

450

3.000

1991

VII

Joinville

150

450

2.000

1992

VIII

Caçador

130

390

2.800

1993

IX

São Bento do Sul

170

510

2.100

1994

X

Criciúma

142

400

2.600

1995

XI

Joaçaba

126

370

2.300

1996

XII

Concórdia

187

570

4.000

1997

XIII

Brusque

167

530

9.000

1998

XIV

Rio do Sul

173

600

8.000

1999

XV

Blumenau

206

800

12.000

2000

XVI

Itajaí

214

800

10.000

2001

XVII

Tubarão

200

800

5.000

2002

XVIII

Ituporanga

200

800

6.000

2003

XIX

Joinville

230

690

14.000

2004

XX

Pomerode

227

680

9.000

2005

XXI

Videira

234

702

5.000

2006

XXII

Curitibanos

237

702

4.500

2007

XXIII

Blumenau

232

696

10.000

2008

XXIV

São José

150

450

4.000

2009

XXV

Rio do Sul

156

468

6.000

2010

XXVI

Campos Novos

162

486

4.000

2011

XXVII

Piratuba

162

324

4.000

2012

XXVIII

Ibirama

160

320

4.000

2013

XXIX

Ituporanga

167

334

4.000

2014

XXX

Jaraguá do Sul

173

356

4.000

2015

XXXI

Joinville

174

348

4.000

2016

XXXII

Timbó

165

330

5.000

2017

XXXIII

Criciúma

148

296

2.000

2018

XXXIV

Massaranduba

150

300

4.000

2019

35ª

Campos Novos

155

310

5.000

2020

Não houve Feira Catarinense de Matemática

2021

36ª

Virtual

64

109

2852

Fonte: Editado por Viviane C. da Silva com base no quadro apresentado no Relatório da XXXI Feira Catarinense de Matemática e nos Anais das Feiras Catarinenses de Matemática subsequentes.

Analisando o Quadro 1 observa-se que essas 36 edições as Feiras Catarinenses envolveram mais de 16000 pessoas (crianças, jovens e adultos) na exposição de 59851 trabalhos relacionados ao ensino de matemática, em sua grande maioria, e houve a visitação de mais de 170000 pessoas, sendo a maioria alunos de escolas da região onde a Feira é desenvolvida. Isto mostra que neste período este evento atingiu mais de 150000 (aproximadamente) estudantes, entre expositores e visitantes, apresentando o ensino deste componente curricular de forma diferenciada.  

Quando iniciaram as Feiras tinham como objetivos,

Expor material instrucional para o ensino da Matemática; motivar o desenvolvimento de habilidades para a confecção e a manipulação de materiais instrucionais; tornar clara a importância do uso e as limitações do material instrucional; despertar para o ensino integrado na Matemática e desta com outras áreas do saber; promover a divulgação e a popularização dos conhecimentos matemáticos; facilitar o intercâmbio de experiências e conhecimentos. (FLORIANI, J.V; ZERMIANI, V.J. 1985, p.2)

Aos poucos, os objetivos foram sendo alterados de acordo com a estrutura do evento, que se modificava com base em discussões entre os professores envolvidos. Atualmente, as Feiras têm, de acordo com o Regimento da 36ª Feira Catarinense (2021), como objetivos: a) Despertar nos alunos maior interesse na aprendizagem da Matemática; b) Promover o intercâmbio de experiências pedagógicas e contribuir para a inovação de metodologias; c) Transformar a Matemática em ciência construída pelo aluno e mediada pelo professor; d) Despertar para a necessidade da integração vertical e horizontal do ensino da Matemática; e) Promover a divulgação e a popularização dos conhecimentos matemáticos, socializando os resultados das pesquisas nesta área; f) Integrar novos conhecimentos e novas tecnologias de informação e comunicação aos processos de ensino e aprendizagem.

A realização de edições da Feira Catarinense de Matemática teve desdobramentos, dentre eles, a necessidade de um Seminário. Assim, o I Seminário de Avaliação das Feiras Catarinenses de Matemática, realizado em 1993, objetivou discutir as Feiras de Matemática e deliberar sobre assuntos conflitantes.  Até 2022, já foram realizadas seis edições deste Seminário (1993, 2001, 2006, 2009, 2013 e 2017) dos quais participaram professores da Educação Básica e Superior e alunos de cursos de Matemática. Eles são essenciais para que as Feiras não fiquem estáticas, ou seja, permaneçam sem alterações, mas se modifiquem buscando sempre seu aprimoramento. Este dinamismo é um dos fatores que faz com que o Movimento de Feiras de Matemática exista a mais de trinta anos.

O envolvimento das várias regiões do estado nesse projeto, fez com que, em 2001, durante o II Seminário sobre Feiras de Matemática fosse deliberado que, a partir daquele ano, só participariam das Catarinenses os trabalhos apresentados e avaliados em Feiras Regionais. Isso se fez necessário, para que todos os trabalhos que fossem para a Feira Catarinense passassem pelos mesmos critérios de avaliação. Essa seleção se faz necessária, uma vez que o número de trabalhos que podem ser apresentados é limitado devido ao espaço destinado ao evento e aos custos de realização, visto que um dos princípios é garantir a gratuidade aos participantes (desde alojamento até alimentação). Outra ação pensando na realização da Feira de Matemática foi impulsionada neste evento - a criação de uma Comissão Central Organizadora Permanente das Feiras de Matemática, com a finalidade de assessorar a gestão das Feiras de Matemática que acontecem no estado, sejam elas Escolares, Municipais, Regionais e/ou Estadual. Isto faz com que a gestão das Feiras se torne cada vez mais participativa.

Nas primeiras edições deste evento, os professores inscreviam seus trabalhos para serem apresentados de acordo com as categorias: trabalhos de alunos do pré-escolar, de 1ª a 4ª séries, de 5ª a 8ª séries, 2º grau ou do 3º grau. Também havia as categorias: “Professor”, para trabalhos frutos de pesquisa do professor em sala de aula e deviam ser apresentados por ele, e “Comunidade”, trabalhos que exploram a Matemática, mas que não estão diretamente desenvolvidos em sala de aula. Hoje, com a ampliação do Ensino Fundamental de 8 para 9 anos, as categorias passaram a ser: Educação Infantil, Anos Iniciais do Ensino Fundamental (do 1º ao 5º ano), Anos Finais do Ensino Fundamental (do 6º ao 9º ano), Ensino Médio, Ensino Superior, Professor, Comunidade e Educação Especial, que foi inserida no III Seminário de Avaliação das Feiras de Matemática, para trabalhos desenvolvidos em “Instituições de Educação Especial, oficialmente reconhecidas” (ZERMIANI, 2009, p.41).

Além da categoria, ao inscrever o seu trabalho o professor deve indicar em qual a modalidade ele está inserido, indicando o tipo de trabalho desenvolvido. No início havia cinco modalidades: Matemática Pura; Matemática Aplicada; Jogos Didáticos; Material Instrucional e Informática. No I Seminário, foram acrescentadas outras duas: Pesquisa em Educação Matemática e Inter-relação com outras disciplinas.

As modalidades logo foram mudadas, pois, o grande número e a semelhança entre algumas delas, gerava dúvidas nos professores orientadores no momento da inscrição. Em 2001, no II Seminário, de acordo com Zermiani (2002), as modalidades de inscrição foram reduzidas para três – Materiais e Jogos Didáticos; Matemática Pura e Matemática Aplicada e/ou Inter-relação com outras disciplinas – e assim permanecem até hoje.

Após muitos anos de realização das Feiras Catarinenses de Matemática, havia o desejo de expandir esse movimento educacional para todo Brasil. Esse desejo se tornou realidade no ano de 2010, quando o Movimento de Feiras de Matemática teve um grande avanço com a realização da I Feira Nacional de Matemática, em Blumenau, que tinha o objetivo de difundir as ideias da Feira Catarinense e apresentar trabalhos desenvolvidos em todo o Brasil.

Com o objetivo de propiciar a realização de Feiras estaduais específicas de Matemática em todas as unidades federativas, em médio prazo, o Movimento de Feiras de Matemática, em 2015 foi assinado um convênio entre três instituições de ensino superior: Universidade Regional de Blumenau – FURB, Instituto Federal Catarinense – IFC, Universidade Estadual da Bahia – UNEB e a Sociedade Brasileira de Matemática – SBEM. No ano de 2021 esse convênio foi atualizado e ampliado, uma vez que além das instituições que já faziam parte do primeiro, foram incluídos o Instituto Federal de Santa Catarina – IFSC e a Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC.

 

AUTORA: 

Viviane Clotilde da Silva - Doutora em Educação para Ciência. Professora do Departamento de Matemática e da Pós-Graduação em Ensino de Ciências Naturais e Matemática (PPGECIM) da Universidade Regional de Blumenau – FURB.


REFERÊNCIAS

FLORIANI, José Valdir; ZERMIANI, Vilmar José. Feira de Matemática.  Revista de Divulgação Cultural, Blumenau, p.1-16, dez. 1985.

SILVA, Viviane C. da. Narrativas de Professoras que Ensinam Matemática na Região de Blumenau (SC): sobre as Feiras Catarinenses de Matemática e as práticas e concepções sobre ensino e aprendizagem de matemática. 2014. Tese (Doutorado em Educação para Ciência). Faculdade de Educação. Universidade Estatual Paulista Júlio de Mesquita Filho, Bauru, 2014. Disponível em: https://www2.fc.unesp.br/ghoem/trabalhos/59_7_tese_viviane_silva.pdf. Acesso em 05 jul. 2016.

ZERMIANI, Vilmar José (Org.). In: SEMINÁRIO DE AVALIAÇÃO DAS FEIRAS CATARINENSES DE MATEMÁTICA, 2, 2002, Blumenau. Anais [...] Blumenau: Edifurb, 2002. 156p.

ZERMIANI, Vilmar José. Feiras de Matemática de Santa Catarina: relevância para a educaçãoBlumenau: Edifurb, 2003. 141 p.

ZERMIANI, Vilmar José (org.). In: SEMINÁRIO SOBRE FEIRAS DE MATEMÁTICA, 4, 2009, Blumenau. Anais [...] Blumenau: Nova Letra, 2009. 253p.

ZERMIANI, Vilmar José (org.). In: REGIMENTO DA XXXI FEIRA CATARINENSE DE MATEMÁTICA, 2015. Disponível em: https://drive.google.com/file/d/0B60-BdL1fVoSaEpLQWhaZ2JJb1E/view. Acesso em 02 jul 2016.

REGIMENTO DA 36ª FEIRA CATARINENSE DE MATEMÁTICA, 2021. Disponível em:https://www.furb.br/_upl/files/especiais/lmf/RetificacaoRegimento%20da%2036%20FCMat%20-%202021.pdf?20211216083410. Acesso em 15 dez. 2021