Exploração de algoritmos históricos de multiplicação: um diálogo entre Paulo Freire e ideias decoloniais

Autores

DOI:

https://doi.org/10.37001/ripem.v11i2.2563

Palavras-chave:

Multiplicação, Algoritmos Históricos, Oficina, Decolonialidade

Resumo

Relata-se aqui um trabalho com alunos do 5º anode uma escola pública, em que se exploram algoritmos alternativos de multiplicação. Estes foram desenvolvidos em oficina na escola em que os estudantes os ensinaram aos pais e familiares. Como a turmajá resolvia amultiplicação pelo algoritmo usual, ampliou-se sua compreensão, desafiando-os a descobrir “outros jeitos” de efetuá-la, aprendendo o algoritmo árabe (ou gelosia), o russo e o chinês. O estudo foi desenvolvido na perspectiva em que o professor deixa de ser detentor do conhecimento e estabelece com o estudante um círculo de saberes em que todos ensinam e aprendem: professores, pais e alunos, de acordo com Santos (1997), Hoffman (2012) e Freire (1996; 1987). Busca-se um ensino de matemática em que o estudante constrói conhecimentoà medida que desenvolve a sua autonomia de pensamento quando discute com seus pares e professor. Corroborando esse pensamento, as ideias decoloniais se fundem àquelas de Freire (1987), quando os estudantes redescobriram procedimentos históricos de culturas diferentes, reinventaram soluções para a multiplicação com zero na ordem das dezenas e melhor compreenderam os agrupamentos na base dez. A aprendizagem da multiplicação ocorreu com ludicidade, enquanto o estudante construía a concepção de matemática como criação humana, em diferentes espaços e tempos, e não como um conhecimento pronto e acabado que deveriam aprender (Zonzini, 2016). A experiência mostrou que todoscompreenderama operação, melhoraram o raciocínio multiplicativo e iniciaram a construção de conceitos geométricos. Os estudantes partilharam com familiares novas aprendizagensem uma relação dialógica que trouxe motivação e curiosidade sobre os algoritmos e suas origens. Ademais, perceberam a matemática como aprendível e prazerosa, um saber que liberta, e não exclui; portanto, precursor de uma nova racionalidade que se discute na perspectiva da decolonialidade.

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Publicado

2021-05-01

Como Citar

HOFFMAN, B. V.; ZANON, T. X. D.-C. Exploração de algoritmos históricos de multiplicação: um diálogo entre Paulo Freire e ideias decoloniais. Revista Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, v. 11, n. 2, p. 66-90, 1 maio 2021.

Edição

Seção

Artigos