Currículo, Educação Matemática, Política e Podres Poderes

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DOI:

https://doi.org/10.37001/ripem.v12i1.2871

Palavras-chave:

Currículo, Educação Matemática, Política, Contraconduta

Resumo

Neste ensaio, componho um texto que relaciona currículo, educação matemática, política e relações de saber e poder. Nessa composição, uso a música “podres poderes”, de Caetano Veloso, como fio condutor do texto. Defendo que: (i) a matemática é uma disciplina que pode servir como instrumento codificador, conduzindo as condutas dos sujeitos; (ii) há valores, comportamentos, enfim, uma moral que se constitui, imbricada ao ensino da matemática; (iii) há um alinhamento entre a matemática escolar e a lógica neoliberal, fundamentada na responsabilização do indivíduo por seu fracasso ou sucesso, pela promoção do espírito de competitividade, por tornar a administração da própria vida algo semelhante à administração de uma empresa, por fazer cada um acreditar que os governos são cada vez menos responsáveis por cuidar das populações e que as pessoas devem se responsabilizar cada vez mais por isso, entre outras ideias; (iv) o conhecimento matemático é visto como um bem, um capital, o qual constitui um capital humano para aqueles que adquirem esse conhecimento. As nações se desenvolvem por terem um capital humano valorizado. Em outras palavras, um país, cuja população tem um bom desempenho em avaliações, pois isso é visto como educação de qualidade, tem um status de capital humano valorizado. A partir do cenário, argumento sobre a importância de estabelecermos movimentos de contraconduta, no sentido foucaultiano, de resistência contra a lógica neoliberal. Proponho que façamos isso por intermédio do exercício de engajamento político, resistência, atenção, vigilância, desconfiança, crítica e criatividade para produzirmos currículos menos codificadores, e mais produtores de multiplicidades de valores, condutas e formas de ser e estar neste mundo.

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Publicado

2022-01-01

Como Citar

SILVA, M. A. Currículo, Educação Matemática, Política e Podres Poderes. Revista Internacional de Pesquisa em Educação Matemática, v. 12, n. 1, p. 9-28, 1 jan. 2022.

Edição

Seção

Artigos