Manifesto SBEM contra as condições precárias e sob pressão que estão vivendo professoras e professores para ensinar matemática em demandas para atividades online

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Categoria: Notícias
Data de publicação Escrito por Antonio Nascimento

Brasília-DF, 26 de Junho de 2020.

Caras Sócias, Caros Sócios

A pandemia do Covid-19, que afeta a humanidade de forma tão perturbadora, atinge os brasileiros em um momento de grandes conflitos e dilemas políticos e sociais. Nesta semana, lamentavelmente, alcançamos mais de 55 mil mortes. A SBEM deixa aos familiares e amigos das vítimas nossos sentimentos.

Cotidianamente vivemos momentos de desrespeito e destruição das Culturas, das Artes, da Educação, da Ciência, da Saúde Pública, da Comunicação verdadeira com a Sociedade. Manifestações populares e práticas democráticas sofrem ataques e desmontes diários. Para amargurar ainda mais o sofrimento do povo, a economia se sobrepõe à vida humana, como se pessoas fossem objetos descartáveis depois de explorados em todo o seu potencial vida, transmutado em força de trabalho.

Na contramão de todo desenvolvimento tecnológico a humanidade precisa agora enfrentar o fato de que futuro, inovação e progresso humano não nos livraram de um futuro incerto. Na verdade, a pandemia surge para dar maior visibilidade aos problemas (sociais, econômicos, trabalhistas e ambientais) que já assolavam a sociedade brasileira, sobretudo, das pessoas condicionadas a maior vulnerabilidade socioeconômica. Precisamos trabalhar para PROTEGER e SALVAR vidas. Não podemos usar esse momento com um oportunismo para aumentar opressão e desigualdades sociais, e para implementar práticas que não garantam a qualidade e o direito universal à Educação.

Na linha de frente dos problemas não estão apenas os profissionais da Saúde, que merecem TODO o nosso reconhecimento e agradecimento, mas, também docentes. Os(As) educadores(as) estão sendo “jogados em águas profundas sem saber nadar”. Educação a Distância (EaD), Ensino Remoto, Educação Online, Teletrabalho etc., que implicam âmbitos conceituais distintos, mas, que se tangenciam em determinados aspectos, surgem indiscriminadamente e passam a compor documentos de várias políticas. Além do mais, didaticamente, é desapropriada a transferência ou adaptação de conteúdos de um material didático impresso (livro ou apostila), elaborado para uma aula presencial, para uma dinâmica online. São dois cenários formativos que exigem planejamentos próprios. Falando em conteúdo, quais seriam importantes em um tempo como esse? Particularmente, que conteúdos matemáticos fariam sentido e respondem a necessidades de ordem político-emocional-transformador em momentos de distanciamento e isolamento social?

É necessário empoderar as professoras e os professores - de todos os níveis de ensino - para construírem planos de ensino e aprendizagem com objetivos claros, mas com muita cautela. Temos que ter muito cuidado com o oportunismo e o aligeiramento nos processos de ensino e de aprendizagem. O ensino precisa de planejamento rigoroso, com equipe multidisciplinar, profissionais preparados(as) para atuar em modelos híbridos, sistemas informáticos adequados ao que se pretende etc. Planejamento é uma idealização futura e implica em um desenho didático feito antes de uma ação formativa, adequado ao público e ao contexto de formação.

Há a necessidade de um planejamento cuidadoso, que potencialize formas diversas de interação e comunicação (em tempo real e/ou não), além de se considerar as avaliações e os objetivos da adoção das práticas a distância na escola. Uma atividade online – simples ou mais complexa – não pode ser uma ação feita da metade para o final do caminho, e sem que se saiba onde se quer chegar. Todo cuidado é pouco, pois Educação online também é importante e pode ser potencial, mas ela não pode continuar sendo refém de oportunismos.

O planejamento, tampouco, é uma ação docente isolada e feita só para seguir estritamente os materiais didáticos. Trata-se de uma ação política, coletiva. Na especificidade do momento que vivemos, as tecnologias digitais e a Internet assumem certa centralidade. Ao contrário de uma aula transmissiva, centrada basicamente no(a) professor(a), a aula online também precisa não ter o(a) docente como centro do processo. Há de romper com a lógica vertical (de docente para estudante) para uma comunicação horizontal, na qual o(a) professor(a) passa a atuar como mediador(a), orientador(a), motivador(a), potencializador(a) de caminhos e descobertas, e os(as) estudantes possam ter mais voz, interagir como iguais e produzir criativamente conteúdos de natureza diversa. Como dar conta dessa rede comunicativa e de criação compartilhada?

É preciso ter cuidado também com a generalização da Internet. Realizar uma comunicação via WhatsApp não é a mesma coisa que ter uma conexão para baixar/assistir vídeos, realizar videoconferências ou chat online etc. Ter conexão em smartphone não é a mesma coisa. Imaginar que smartphone dará conta das especificidades educativas é um perigo! Além do mais, não é só a boa conectividade a resposta, mas planejamentos adequados e formação de qualidade.

Estamos ao seu lado professora e professor que sente esses dilemas e tem dificuldades em enfrentá-los. Realmente não é simples! Também estamos do lado dos alunos e das alunas que, mesmo com o apoio de familiares, não estão conseguindo aprender matemática como merecem. Além disso, é preciso estarmos atentos à perversidade do mercado ao criar currículos massivos e sem interação, sem material adequado e que precarizam ainda mais as condições trabalhistas dos docentes.

Nossa Sociedade quer sempre dialogar com vocês professoras e professores! Mantemos vários canais para que possam se sentir apoiadas(os). Em nossa Sociedade você tem acesso à matérias para a continuidade de sua formação, podendo acessar nossas publicações em nosso Portal: http://www.sbembrasil.org.br/sbembrasil . Temos três novos e-Books publicados e também temos as Revistas e outros materiais para você em http://www.sbembrasil.org.br/sbembrasil/index.php/materiais/professor , de forma que possa consultar, se aprofundar, dialogar e debater sobre temáticas concernentes à sala de aula de matemática. Acesse também o sites e/ou redes sociais da Regionais e aproxime-se da Regional da SBEM em seu estado. Se está vinculada(o) a algum GT da SBEM (http://www.sbembrasil.org.br/sbembrasil/index.php/grupo-de-trabalho) planeje, participe e divulgue ações. Há um conjunto de iniciativas sendo feitas e, caso tenha alguma sugestão ou necessidade, você também pode nos enviar e-mail para O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo. para que possamos pensar, organizar e, possivelmente, atender sua demanda.

Devemos ter cuidado com uma Reinvenção da Escola, que será alvo de oportunismos, demissões profissionais em massa, de formação aligeirada e de uso indiscriminado e desapropriado da tecnologia. Docentes de Instituições privadas já estão vivenciando efeitos dessa política perversa, na graduação[1] e na pós-graduação[2].

Cabe o estabelecimento de diálogos sobre a escolha dos métodos de discussão e de tomada de decisões, sobretudo, quando tais decisões influenciarão não só a vida dos(as) estudantes, mas a própria integridade física, psíquica e moral de sua família e de seu entorno mais próximo, ainda que "distanciado". Professoras e professores, estamos juntos nessa Luta.


Nesses dias de uso exagerado e indiscriminado dos recursos da Internet não há tecnologia informática que substitua o olhar (presencial) atento do(a) professor(a) a(o) aluna(o) e vice-versa. Não há tecnologia que substitua aquele singelo gesto docente de passar a mão na cabeça do(a) seu(sua) aluno(a) e dizer: siga em frente, só o estudo e o conhecimento transformam e libertam.

Professoras e professores contem conosco!

Sociedade Brasileira de Educação Matemática - SBEM

Diretoria Nacional Executiva


[1] https://bafafa.com.br/mais-coisas/jornal-bafafa/universidade-nove-de-julho-demite-300-professores-por-pop-up ou https://g1.globo.com/sp/sao-paulo/noticia/2020/06/23/professores-da-uninove-acessam-plataforma-de-aulas-e-recebem-aviso-de-demissao-diz-sindicato.ghtml Acessos: 23.jun.2020

[2] Em 25/06/2020 temos informação de que em um grupo privado – que envolve várias universidades em São Paulo – todos os pesquisadores tiveram (em 24/06/20) a carga horária de pós-graduação reduzida à 50%, e consequentemente, 50% de redução de salário. Para os colegas que atuavam também na graduação a redução foi de 75%.

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